sexta-feira, 27 de julho de 2012

Entre esses muros erguidos

– Você não é muito carinhosa. – Ele disse de uma maneira suave enquanto estávamos sentados um ao lado do outro no carpete da sala de jantar.
– É, eu sei. – Falei de forma natural, abrindo um sorriso tristonho.
– É assim? – Ele parecia desapontado.
– É assim o que?
– Não vai se defender?
– Contra o que? Você falou a verdade.
– Eu sei, mas achei que você me daria uma razão. – Ele abaixou a cabeça, recolhendo a mão que estava em minha coxa. – Mas parece que não.
– Você não entenderia. – E não entenderia mesmo. Como eu poderia dizer que eu estava apaixonada por outro enquanto ele estava sendo tão legal comigo?
– Tenta. – ele se voltou para mim, pegando minhas mãos.
– Desde o início eu fui assim. Não é agora que eu vou conseguir mudar. – Me defendi dessa vez. – Mas vou entender se isso não estiver satisfazendo suas expectativas e você quiser se afastar.
– Eu não quero me afastar. Nem quero que você deixe de ser o que é. – Ele me olhou com aqueles olhos cheios de compreensão. – Só quero saber o porquê disso.
Eu poderia muito bem abrir o jogo com ele e contar tudo. Mas eu não posso. Eu não quero fazer isso, porque ele pode ser como todos os outros, e se for, será apenas mais um. Em vez disso, fiquei quieta e me afastei.
Ele ficou onde estava, só me observando. Fiz o mesmo. E, como sempre, comecei a compará-lo com o quê eu realmente sentia falta. Eu sentia falta de todo aquilo físico antigo, da voz, do modo de falar. Eu sentia falta do cheiro, da mão lisa e fina. Sentia falta do formato perfeito das unhas e do ponto certo de masculinidade que as pernas representavam. Sentia falta dos lábios desenhados e daquela mania de passar um no outro. Daquela risada horrível, mas que estava rindo junto comigo. E depois eu senti culpa, porque era injusto com ele eu sentir falta de tudo isso enquanto ele estava ali todo para mim.
Me aproximei lentamente, tentando, de alguma forma, mostrar que também o aprecio. O que é verdade. Eu gosto de muita coisa nele, porém, estou sempre à caça de seus defeitos para assim justificar a minha falta pelo outro. O que é totalmente injusto e desleal, mas é humano.
Ele ficou quieto, não respondeu ao meu toque, e eu pensei seriamente em recuar. Porém, lembrei que a vida segue. Eu não podia ficar sentindo falta do passado o tempo inteiro. Ele estava ali para mim, não importa de que forma fosse. Então eu reuni todas as minhas forças e o puxei para um beijo. Ele respondeu de imediato, tornando o beijo muito bom. Eu fiz força para esquecer tudo aquilo em que sempre estava pensando e tentei, de verdade, abaixar meus muros e o deixar entrar um pouquinho dentro da minha cabeça. Mas os muros estão tão firmes atualmente que eu sinceramente não sei quando ele vai conseguir derrubá-los. E se vai.













2 comentários:

  1. Gostei especialmente desse teu texto.
    Não só por me identificar um pouquinho (e queria eu dizer o contrário), mas também pela forma em que foi escrito.
    Tá leve e faz a gente sentir uma dorzinha lá no fundo onde a gente acha que não é possível existir mais nada.
    Um dia chega alguém que transpõe esses muros sem força alguma, sem nem sentirmos e vai entrar mesmo sem permissão.
    Tempo.

    Beijo!

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  2. Ai, Paulinha, você sempre com esses seus comentários maravilhosos que me fazem refletir mais ainda.
    Tempo é sempre a resposta pra tudo na vida, ou quase tudo, pelo menos. Eu vou me deixando levar, desse jeito. Cortando o que me pesa e levando o que me faz bem. Um dia, quem sabe, eu desarmo né. Ou melhor, desarmamos. haha.

    Beijoos.

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