domingo, 4 de março de 2012

Remédios para grandes feridas

É incrível o poder de cura que alguns lugares possuem. Eles guardam para si sua beleza e suavidade, exibindo-as verdadeiramente apenas para aqueles que se dignam a visitá-los. Eu visitei dois desses lugares, e os devo reverências: ambos participaram efetivamente do meu processo de cura.
Eu estava sofrendo desesperadamente. A dor me sufocava, tirava meu foco, minha esperança, credibilidade, alegria de viver. Eu me sentindo rejeitada por qualquer coisa. Estava com uma ferida gigantesca no peito que não parada de sangrar. Qualquer aproximação um pouco grosseira que fosse já me tirava do sério. Meus nervos estavam em frangalhos. Eu me encontrava perdida no meu limbo pessoal.
Então eu fui para Praia Seca. Arrumei minhas malas, entrei dentro do ônibus com as amigas e parti para esse fim de mundo. Que fim de mundo delicioso! Caía uma chuva idiota do céu que estragava qualquer probabilidade de uma badalação a noite. Pois é, eu pensava que iria encontrar muita gente , alguma farra para me enfiar e bastante sol para dar uma queimada na minha brancura habitual. Não encontrei nada disso.
Paria Seca se mostrou um lugar tranquilo, um tanto monótono, pode se dizer. Mas é aquilo, você nunca sabe do que precisa até dar de cara com. Aquela monotonia trouxe paz para dentro de mim. Descrever o que eu fui sentindo na semana que passei naquela cidade é muito complicado, pois as sensações às vezes são tão plenas que você encontra dificuldade de defini-las. Vou tentar ser o mais precisa possível: eu estava perdida dentro de mim mesma, uma bagunça humana. Parte de mim quebrada, totalmente destruída; a outra estava parada, sem vida. Eu não conseguia ter forças para ativar nada aqui dentro, a não ser trevas. PS tratou de me invadir com seu ar salino, mover tudo o que aqui estava inerte e dar-me vida outra vez. Aquela lagoa me completava. Eu clamava por ela tanto quando ela clamava por mim. O vento frio não me incomodava; era terapêutico. Eu sentia a brisa bater no meu rosto e aquilo que confortava de uma forma tão ampla, que me fazia sentir bem comigo mesma, coisa que eu não conseguia fazia tempo. Tudo foi essencial: as pessoas, as amigas, a lagoa, a areia da lagoa, o vinho, a música, as conversas, as tequilas, as pizzas, o vento, as caminhadas, a chuva, a praia,...
Eu precisava daquela calmaria para me regenerar, por-me no lugar novamente para conseguir seguir adiante. A bagunça fora organizada. Eu estava pronta para a vida.
Então chegou o carnaval. Fui para Caxambu-Minas Gerais. Tenho que admitir. Estava extremamente receosa quanto a isso. Nunca fui fã dessa data, nunca nem ao menos tive vontade de sair de casa nessa época. Viajar fora arriscado, mas não pude me conter a oportunidade de mudar os ares. Foi nessa viagem que eu descobri a magia do carnaval. Foram 14 pessoas dentro de uma única casa. Catorze pessoas que fizeram daqueles dias maravilhosos. Aquela mistura de sotaque era deliciosa. Cariocas, paulista e mineiros como prato principal daquela loucura carnavalesca. Eu me vi no meio de um lugar desconhecido, com muitas pessoas desconhecidas e sem ter ideia do que fazer. Eu não precisei dela. Eu simplesmente me entreguei ao lugar. Aproveitei que a minha bateria havia sido renovada para carregá-la ao máximo. E como carreguei. Nunca me diverti tanto e por tantos dias seguidos como naqueles 4 dias. Foi espetacular. As ladeiras de Caxambu não me cansaram como todos disseram que iria acontecer; me revitalizaram. Eu passei a nutrir um amor por aquela cidade. Sinto falta da simplicidade dos mineiros, da simpatia sem receios destes; Sinto falta dos paulistas, das suas loucuras, idiotices, bebedeiras e principalmente da abertura que eles tiveram ao se deixar familiarizar por todos; Tenho saudades da paz e segurança da cidade, onde eu podia caminhar trêbada sem maiores receios de ser assaltada/abusada/sequestrada como tenho no Rio de Janeiro, rs. 
Eu deixei Minas Gerais com aquele gosto enorme de quero mais, essa é a verdade. Apaixonei-me por carnaval, por paulistas, por mineiros, por tudo! Eu consegui, com essas viagens, achar motivos para sorrir novamente. Elas me trouxeram expectativas por dias melhores; trouxeram-me esperança. Vi que me entregar a tanta dor e sofrimento só me faz perder o que a vida tem de melhor a oferecer. Sou nova demais para bancar a viúva injustiçada. Estou viva e sou perfeitamente saudável. Caí, mas já me levantei. E você?

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