segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Enquanto o sol não vem

— Como tem passado as noites? — Ele sentou do meu lado na areia.
— Não muito bem, você sabe.
— É, eu sei. Ainda sentindo frio, não é?
— Pois é. Não consigo me acostumar com o vazio da cama.
— Estou na mesma.
— Sabe o que eu faço quando fica insuportável? — Ele levantou os olhos, curioso. — Abraço o Stevens.
— Pensei que você tivesse se desfeito dele. — Ele ri porque sabe que eu jamais teria feito isso.
— Não. Ele é meu companheiro agora. Nunca me apeguei tanto à um urso de pelúcia quando aquele. — Levanto os olhos para fixa-lo nos dele — Acho que é coisa sua mesmo.
— Coisa minha? — Pergunta, falsamente inocente.
— Seu cheiro nele, sua lembrança. Essas coisas. Compensação. — Volto a olhar para a areia.
— Você sabe que não precisa disso. — Ele se aproxima, tirando as mexas de cabelo que escondem meu rosto. Eu mantenho o rosto abaixado.
— Realmente. O que eu preciso é você. — Levanto a cabeça e olho em seus olhos. — Mas eu não te tenho mais. O que quer que eu faça?
— Siga… — Ele engasga com as palavras. — Siga em frente, talvez. — Sai em um suspiro.
— Eu deveria mesmo. — Digo, magoada. — Um dia eu consigo. Você deveria fazer o mesmo. Deve ser fácil, já que está me sugerindo isso.
— Para de fazer pirraça. Sabe muito bem que não é assim. — Um suspiro pesado. Cansaço. — Eu queria muito, mas muito mesmo te superar. Passar por cima do que eu ainda sinto por você e seguir em frente, sabe. Conhecer alguém bacana. Tem tanta gente bacana por aí... — Ele se perde nas palavras, como se estivesse falando consigo mesmo. — Mas toda vez que eu penso em virar a página, você me vem à cabeça. Essa tua risada escandalosa, o teu jeito de me chamar de amor, tua piadas sem graça. Esses detalhes, sabe. E aí eu não consigo. Eu fico preso à você; perco a vontade de mudar o disco.
Um minuto de silêncio se estende entre nós. Eu fico fazendo bolinhos de areia com a mão e deixando que seus grãos escorram por entre os meus dedos, aproveitando para assimilar tudo o que ele acabara de dizer.
— Você ainda me ama? — Pergunto, categórica.
— Ainda tem dúvidas disso? — Ele debocha gentilmente.
— Responde. Foi por causa das suas meias-respostas que nós acabamos assim.
— É óbvio que eu amo você. Não tem como deixar de te amar. — Ele me puxa para mais perto, fazendo com que eu sinta sua respiração. — Você foi a melhor coisa que me aconteceu nesses últimos 2 anos. Eu não sei o que eu teria feito se você não tivesse entrado na minha vida. — Ele engoliu em seco. — E você? Ainda me ama? Ainda me quer de volta?
— Eu te amo com todo o meu coração. — Disse devagar. — Mas não sei se te quero de volta. — Minha voz se perdeu no final da frase.
— Entendo… — Ele parecia magoado agora. Mas não afrouxou suas mãos em minhas costas. — E o que sugere que façamos?
— Só por agora, vamos ficar aqui abraçados. Aproveitar a noite, o barulho do mar. O depois a gente deixa pra depois.
Passamos a noite abraçados um no outro, provavelmente temendo o amanhecer, pois nenhum de nós sabia como iria ser. Porém, só por hoje, nós éramos apenas a gente de novo.

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