Eu sinto dor.
Muita dor. E não é como antes. É pior. Antes eu sabia que era um estorvo e que
eu tinha que me livrar daquilo. Sabia que só me fazia mal, que nunca
acrescentaria nada de positivo na minha vida, tal qual não o fez. Porém agora é
diferente. Isso é diferente. Com aquilo eu perdi a crença. A minha capacidade
de acreditar no perfeito, no sonho, no sincero. Foi difícil. Nossa, Deus sabe
como foram difíceis todos aqueles meses. A diferença se dá pelo fato de eu
saber que aquilo não era bom, só não tinha coragem de me livrar. Agora não.
Agora é completamente diferente. Eu sei que só somava, só tornava melhor. Eu
sei o quanto foi depositado nisso – confiança, amor, carinho, afeto, segredos,
dúvidas, risadas e muito, muito mais. Imagine uma caixa. Ela é bonita,
revigorada, feliz. Ela está bem consigo mesma por ser do jeito que é. Porém,
começa a sentir falta de algo e isso a incomoda. Assim, ela arranja algo para
por dentro de si. Algo bom, que a faz feliz e ainda a faz se sentir completa.
Porém, com o tempo, ela percebe que é muito peso para si, é maior do que pode agüentar.
Não que a caixa seja fraca, mas cada caixa é diferente, e aquilo que ela
carrega não é compatível com a sua grandeza, por isso começa a enfraquecê-la.
Livra-se disso que a está fazendo mal, porém, é difícil, pois ela sabe que
sentirá falta, se sentira vazia e inútil, por mais que não seja e todos saibam
disso. Um dia, finalmente, ela toma coragem e se livra daquele peso que a
estava atrasando. Pois bem, isso foi o que eu fiz com aquilo.
A caixa continua
sua vida, sentindo falta daquilo, sentindo um vazio dentro de si e achando
aquilo o fim do mundo. Até o dia que descobre que viver sem aquele peso é bem
melhor, que era apenas uma questão de costume. Afinal, ela continua sendo uma
caixa, certo? Pois bem. Até o dia em que uma parte de si mesma é levada. Sim.
Uma de suas laterais é rasgada e leva para longe dela. Aquela lateral faz parte
de sua existência. Define o que ela é. Sim, ainda lhe sobram as outras partes,
mas estas não têm seu total valor se aquela não estiver presente. É o conjunto
de suas partes que a fazem ser uma caixa.
Eu sou a
caixa. Eu perdi uma parte essencial para definir quem eu sou. Continuo aqui,
viva, porém não inteira. Deixei de ser útil para uma série de coisas. Deixei de
ser bela. Perder isso é como se uma parte de mim fosse arrancada do meu próprio
ser. E não dá para sobreviver sem ela... Ah, não dá. Nunca mais será a mesma
coisa. Cada momento da minha vida passado sem esse pedaço doera mais e mais.
Essa ferida vai sangrar, inflamar e se manter ali, por toda a minha vida. Quem
sabe um dia eu não me acostume a viver com essa dor e posso finalmente
recomeçar sem isso. Mas eu sempre sentirei falta. Sempre terei sido mais feliz
a tendo e todos os dias de minha vida eu desejarei esse pedaço de volta. Pois
ele é meu, sempre foi meu. Viver sem ele é não ser quem eu sou e eu não estou
pronta para me abandonar.
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