Escuridão.
Essa é a palavra que melhor define o que acontece dentro de mim; o que há dentro
de mim nesse momento. Não há esperança, fagulhas de alegria ou o que quer que
seja de positivo demais para se destacar diante do negro que aqui há. Não me
considero estando infeliz. Infeliz está quem perdeu seus familiares no
desabamento dos prédios no Centro. Infeliz é quem passa fome e frio na rua.
Não, eu não estou infeliz. Seria muita audácia de minha parte dizer isso. Eu me
encontro é perdida.
Sinto-me
como se estivesse parada no meio de uma estrada de alta periculosidade, cheia
de carros indo e vindo. Eles buzinam para que eu saia da frente, mas eu não
consigo me movimentar porque eu não os vejo. Eu sinto que estão todos ali, que
estou perturbando o trânsito, mas, por não ver os carros e só ouvir o barulho
ensurdecedor de suas frenéticas buzinas, não sei para onde me mover, não sei
que movimento fazer para evitar uma catástrofe. De repente, aquele som todo
some. E eu percebo que não há mais nada ali, somente eu. Não sei como descrever
realmente essa minha existência única. Só posso relatar o meu enorme sentimento
de solidão e impotência diante desse grande vazio.
O
nada então passa a ser o que me guia para nenhum lugar. Permaneço a caminhar
sem direção alguma, só por não saber o que fazer. Grito por aqueles que eu
julgava serem o meu apoio, a minha base. Eles não me respondem de volta. Grito
então por Deus, para que me ajude com sua interferência divina e me tire desse
vazio tão devastador que me desespera tanto. Ele não parece ouvir. Parece se
afastar cada vez mais, como se a minha existência já não tivesse mais sentido,
como seu eu já tivesse cumprido meu mísero papel e chegara a minha hora de ser
descartada.
O
desespero toma conta de mim e sinto tudo o que há em meu interior se desfazer.
Cada partícula do meu ser que eu julgava ser minha essência começa a ser
destruída. Uma a uma. Eu me vejo morrer diante dos meus olhos; vejo-me ser
perdida no meio do que não há.
Só
resta, então, um corpo vazio com a alma deteriorada pela vida; com os
sentimentos revirados, muitos destes destruídos por não terem sido
correspondidos. E este corpo, o meu corpo, ali permanece, no vazio, esquecido,
largado, à espera de algo para que possa levantar. À espera do que o faça
sentir novamente a necessidade de estar vivo. Permaneço aqui, no meu próprio
limbo interior, olhando pra frente; tentando enxergar, enfim, um novo caminho
de luz.
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