terça-feira, 3 de janeiro de 2012

E eu vou seguindo, assim, pela metade...

            Minha vida mudou muito depois que você se foi. Eu passei a ficar meio perdida em relação a o que fazer sobre tudo, já que eu sempre recorria a você em busca de conselhos. As piadas não possuem mais a mesma graça de antes, elas meio que deixaram de ter um pouco de sentindo, pois as suas eram melhores, então o contraste sempre as deixa um pouco alheias. Meu olhar passou a ser mais triste. Digo isso, pois sei que não sorrio com tanta vontade e graça como antes. É como se houvesse sempre um peso sobre meus ombros que faz meu cenho franzir por si só e deixar minha aparência cansada. Tenho medo de deixar as pessoas me olharem no fundo dos olhos e enxergarem toda essa tristeza que hoje existe em mim.
            Não devo ficar sentindo pena de mim mesma, mas eu na verdade gosto disso. A dor me inspira, me enobrece. Não que isso seja algo realmente bom ou feliz, mas ela me fez escrever mais, pensar mais... sei lá. Acho que eu sou viciada em sofrer, por isso acabo sempre me entregando a dor. Mas eu mudei muito. Amadureci muito. Eu aprendi tanto coisa com o que me aconteceu no passado, aprendi com as coisas que leio, vejo e ouço. Aprendi com você mesmo, até. Por isso não acho justo ficar sofrendo dessa forma por você.
            Eu tinha decidido seguir em frente, tocar a vida, parar de te acompanhar de fora e tudo o mais. Resolvi guardar o nosso passado em minha cabeça e a prova da sua existência em meus pertences. Procurei página à página a frase que você tinha escrito em um velho caderno meu. Assim que a achei, a destaquei da folha e guardei dentro da caixa onde guardo todas as coisas que me foram especiais e que um dia eu quero lembrar. Claro que não faria bem agora abrir a caixa e olhar para a sua caligrafia. Não que ela seja bonita, o que não é, a verdade é que eu me lembraria do momento em que você a escreveu e isso faria a ferida dentro do meu peito arder instantaneamente.
             Quase todas as vezes que entro no meu quarto te imagino sentando na minha cama me olhando entrar, ou ainda sentado na cadeira mexendo no cabelo em frente ao meu espelho. Queria poder dizer para você para de bagunçar o seu cabelo porque ele já estava ótimo daquele jeito. Queria olhar para a sua perna e dizer como ela é linda e como eu sou simplesmente louca por ela. Queria tanta, mas tanta coisa que chega a ser decepcionante saber que não vou ter nem um terço disso.
            Quando você veio falar comigo eu realmente esperei que toda aquela besteira fosse acabar e que voltaríamos a ser o que éramos. Pensei que você diria que sente a minha falta tanto quando eu sinto a sua. A cada dia, a cada instante. Mas não foi isso que você fez, não é? Você “cagou” para mim, mais uma vez. Foi total pouco caso da minha presença na sua vida. Ignorou o fato de saber que eu estava sofrendo, de saber que a tua ausência me machucava mais que qualquer coisa. Você simplesmente me deletou como um jogo que você cansa de jogar e exclui do computador. Ah, não, desculpa, dos jogos você não cansa. Na verdade, eles são o que você realmente gosta, não é? Sem contar aqueles seus amigos que só sabem falar mal de mim, te criticar e invadir o seu quarto sem o menor pudor. Ainda tem aquelas piranhas que dão mole para você a todo o tempo e que você sente mais vontade de estar com elas do que comigo. Engraçado, eu me lembro do tempo em que eu era a pessoa que mais importava para você, que mais te ajudava, te aconselhava. O que vai fazer agora? Arranjou alguém para dar novos conselhos para você, foi isso? Descobriu alguém que te faça sentir muito melhor do que o jeito que eu te fazia sentir?
            Você mudou tanto. Você deixou de ser aquele menino melodramático, carente, carinhoso, dedicado e amigo para se tornar um grosso estúpido e orgulhoso que só se preocupa com mulher, sexo, figurinhas não repetidas e bebida. Só. Eu posso parecer uma amargurada por falar tudo isso, mas se eu me tornei isso hoje é porque você me fez assim. Eu te amei desproporcionalmente. Você disse que me amou da mesma forma. Era tudo mentira, então? Pra dizer tudo o que disse? Para que? Eu falei que deveríamos seguir sendo apenas amigos. O que você me disse? Que não. Se estávamos felizes juntos, deveríamos seguir desse jeito porque no final a amizade iria com certeza perdurar. Eu não estou vendo a nossa amizade perdurar. Tudo o que eu vejo e uma garota que chora a todo o tempo e tenta constantemente travar a memória para não ser dilacerada de dentro para fora com a dor que essas lembranças a causam. Vejo um garoto que muda de opinião como muda de roupa, esquece das pessoas que mais se importam e passa a substituí-las como um novo cd no rádio.
            Eu simplesmente não consigo achar que isso é justo. Nem um pouco. Temos anos de amizade, anos de convivência. Como pode jogar tudo isso no lixo sem ao menos uma explicação? Mesmo sem entender eu respeitaria sua decisão de se afastar de mim se você ao menos tivesse me dado um porquê. Bastava isso, sabe. Uma explicação, mas nada. Eu iria te deixar em paz e você seguiria vivendo sua ida feliz sem mim. Mas você não fez isso. Você se desligou de mim de uma forma tão automática que acabou comigo. Acabou. Consegue entender isso? Nada é igual, nada jamais vai ser. Há sempre um vazio gigante sem você, um buraco que nunca é preenchido e que dói intensamente. Como pode não se importar com isso? Como pôde jogar a culpa e cima de mim só por não ter coragem de que não estava mais se importando comigo? Isso eu não consigo entender. Eu tive que aceitar por respeito as suas decisões. Engraçado, eu respeito as suas, mas você não respeito a minha. Não, você veio jogar na minha cara que a culpa era minha. Você acha certo me fazer viver com isso? Acha? Se me ligasse agora dizendo que está morrendo e não tem ninguém com quem possa realmente contar, eu sairia correndo e te encontraria para te salvar. Eu colocaria toda a dor e mágoa do lado para manter a tua vida intacta, pois isso é o que as pessoas fazem por quem elas realmente amam. Elas colocam o orgulho de lado para fazerem o que é certo, o que devem fazer. Mas acho que você nunca me amou o suficiente para fazer isso, não é? Você nunca por o sentimento a frente do orgulho. Esse sempre foi o meu papel. Talvez por isso você tenha ficado mal acostumado. Talvez. Ou talvez você simplesmente tenha parado de me amar em algum momento da sua vida. Por que eu sei que você já me amou. Sei mesmo. As tuas lágrimas não eram falsas. Mas você cresceu e mudou. Deixou sua amiga no passo e passou a me ver só como mulher. E como mulher eu só tive valor até certo ponto. Você enjoou e trocou. Como todos os homens fazem, aliás. Mas esse é o ponto. Mesmo que você tivesse enjoado, cansado de mim como mulher deveria lembrar de mim como amiga. Lembrar que me ama pelo meu companheirismo. E você não fez. Eu posso dizer porquê. Porque você não me ama de jeito algum a muito tempo, só eu não vi isso.
            Doeu e dói muito. Meus olhos enchem de água a todo instante. Mas é aquilo, eu vou te superar. De todas as formas. Como homem, amigo. Vou. Mesmo. Esquecer, eu não vou, pois nunca se esquece quem te marca. Mas você aprende a pensar naquela pessoa sem sofrer, só vendo tudo como um aprendizado. E o mais importante, eu quero isso. Quero sair desse mar de angustia e memórias doloridas. Eu posso estar dilacerada, mas estou viva. E se as pessoas que estão internadas dentro de um hospital ligadas a máquinas para sobreviver ainda lutam pela suas vidas, eu também posso fazer.  Eu te amo do fundo do meu coração, e acho que de certa forma sempre vou amar. Mas eu vou aprender a viver sem você. E se um dia a gente se encontrar por aí eu quero olhar bem no fundo dos teus olhos e ver arrependimento. Daqueles bem amargos, sabe. Pois foi como você bem me falou, que eu nunca iria encontrar alguém com quem eu tivesse tanta intimidade, tanto tudo como a gente tinha. Pois bem, nem você. Viva sem isso e sabendo que na verdade a culpa foi sua, pois se um dia eu fui sua irmã de alma, hoje você vive com a tua alma incompleta, da mesma forma que a minha.

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