domingo, 5 de fevereiro de 2012

A história de nós dois


Quando eu te conheci, três anos atrás, mais ou menos, você não passava de um pré-adolescente bobão. Tímido, mas brincalhão com aqueles que conhecia. Tinha um penteado ridículo e se achava feio. Eu concordo, você era feio. Ambos éramos, aliás. Eu tinha um cabelo horroroso e não passava de uma tripinha reclamona que gostava de tomar partido das coisas. Sentávamos perto um do outro e isso acabou nos aproximando. Eu tive uma quedinha por um menino da nossa sala (na escola) e você era apaixonado por uma colega minha dessa mesma sala. Eu ficava chocada com os seus métodos de conquista e resolvi te ajudar. Você ficava me ouvindo falar do menino que eu gostava sem reclamar, me dizendo quando e como eu estava errando. Conversávamos no telefone por horas e você odiava quando eu dizia que ia desligar porque queria ligar para o tal menino que eu estava a fim.
Passamos esse ano sendo amigos de sala e, fora da escola, grandes amigos. No ano seguinte eu me mudei e ambos receávamos perder a amizade um do outro. Ficávamos com medo de não conseguirmos mais nos ver, de um esquecer do outro. Isso não aconteceu. Pelo contrário, aliás. Não sei da onde, mas dentro de mim surgiu um amor incontrolável por você, que não media distância nem impossibilidades, só sabia querer mais e mais essa amizade enorme que havia entre nós. Você passou a ser meu melhor amigo, e eu, a sua. Depois de um ano de distância e horas a fio de conversa pelo telefone, nos encontramos, finalmente. Quando eu te vi caminhando em minha direção meu coração ganhou vida novamente. Aquele meu pedaço que estava contigo não estava mais distante. Nos abraçamos e ficamos conversando o tempo todo, colocando os assuntos em dia (sempre existiu assunto entre a gente, mesmo que nos falássemos todos os dias. Você até costumava dizer que queria ter tanto assunto com as garotas que estava a fim como tinha comigo). As horas foram passando e quando chegou o momento de partir, choramos a nossa despedida. Esse choro foi acompanhado de muitos soluços e promessas de “nunca” e “para sempre”.
Continuamos com aquela amizade arrebatadora. Eu ouvindo você reclamar da sua namorada-problema que achava que tínhamos um caso (não havia nem maldade entre nós, nossa!) e você me ouvido falar do cara que eu estava loucamente apaixonada, mas que havia me trocado por outra sem ao menos ter a dignidade de me dar uma explicação. Ouvia eu dizer o quanto eu queria que ele estivesse comigo e o quanto eu queria que ele sumisse quando ele resolveu aparecer novamente. Você me viu presa nesse rolo por um ano e meio, e eu vi você terminar com a aquela sua namorada dizendo que não gostava mais dela.
Nós nunca tínhamos tido uma briga para nos afastar. A primeira vez que realmente paramos de nos falar foi quando você mentiu para mim e eu, com raiva, contei coisas deturpadas sobre você para a sua namorada da época. Nossa, como me arrependo disso! Eu fui uma criançona idiota e não sei como você foi capaz de me perdoar pelo que fiz. Mas um dia a gente simplesmente voltou a se falar, você dizendo que confiava em mim cem por cento novamente, e eu, com problemas gigantes de confiança depois daquele meu caso, ficava com um pé atrás contigo. Porém isso não durou muito. Eu te amava demais e nós tínhamos uma empatia enorme para nos mantermos afastados. Voltamos a nos chamar por apelidos e a se declarar um para o outro como nos velhos tempos. A cumplicidade voltou e com ela veio a massacrante saudade.
Depois de mais um ano de distância, você havia crescido e eu também. Finalmente podia vir à minha casa me visitar. Foi o que fizemos. Você se livrou do compromisso que te prendia todos os finais de semana e marcamos de você passar o domingo comigo. Eu mal podia esperar para ver o meu melhor amigo novamente. Estava contando as horas para te abraçar de novo. As minhas amigas já estavam cansadas de ouvir o seu nome, pois eu falava da sua chegada a todo tempo. Sendo assim, fui te buscar onde havíamos combinado e, quando te vi, tudo mudou. Alguma coisa dentro de mim deu um clique, bem baixinho e discreto, mas deu. A primeira coisa que eu pensei quando te vi foi o quanto você estava gostoso. Juro! Logo depois balancei a cabeça afastando o pensamento, pois você era meu amigo, meu melhor amigo, e nada, jamais, poderia acontecer entre a gente. Por isso eu não percebi o clique de imediato. Fui ao seu encontro, você me levantou no ar em um abraço apertado, e fomos para a minha casa. O dia correu perfeitamente. Não havia buracos de silêncio constrangedores entre a nossa conversa, pois a intimidade que nos envolvia sempre foi gigantesca e não era nunca abalada pela distância que sempre nos separou. Mas nossos abraços estavam diferentes. Eram não só calorosos e aconchegantes; eram eletrizantes. O clique estava gritando em mim e eu não sabia distinguir que barulho era aquele. Tentei dizer à você o que estava acontecendo, mas não consegui. Mantive-me em silêncio, deixando tudo fluir naturalmente. Pois bem, fluiu. Nossa amizade foi modificada para sempre e de uma forma devastadora.
Nossos corpos passaram a se procurar e se necessitar intensamente. Não sabíamos o que estava acontecendo. Eu te queria tanto e de tantos jeitos que não sabia qual deles escolher. Você passava pelo mesmo. Depois de muitos conflitos e indecisões resolvemos seguir em frente já que parar onde estávamos só causaria sofrimento. Conseguimos nos manter por mais ou menos um mês nessa amizade com benefícios, até que a perfeição começou a ruir. Você não me mandava mais mensagens de saudade ou de carinho. Não escrevia mais dizendo o quanto queria me ver e o quanto havia pensado em mim. Logo em seguida, deixou de falar comigo. Passou a me ignorar totalmente. Não me respondia mais em lugar nenhum e, quando raramente o fazia, me deixava falando sozinha depois. Eu, que sempre fui a favor de tentar resolver as coisas primeiro em vez de se afastar sem saber o que estava acontecendo, fui falar contigo. Incontáveis vezes. De diversas maneiras. Mas você continuava me tratando do mesmo jeito, sempre afirmando (quando acontecia de me responder) que estávamos bem, que a amizade não estava sofrendo nenhum dano e que eu fazia tempestade num copo d’água.
Chegou o dia que eu cansei de correr atrás. Quando um não quer, dois não brigam, não é esse o ditado? Pois bem, aceitei te deixar partir. Excluí você de todos os lugares que poderíamos ter contanto. Fiz isso por dois motivos: para não ficar acompanhado a sua vida como coadjuvante, sabendo que você estava feliz sem me ter e que não fazia questão de falar comigo; e porque temia que, em um momento de fraqueza, eu pudesse me render e correr atrás de você mais um vez (como já aconteceu no passando graças a bebida). Depois disso você veio perguntar porque eu tinha te excluído, mas não parecia se interessar realmente. Parecia mais uma obrigação. Deu-me umas respostas indiferentes e voltou a fazer o que estava fazendo. Naquele dia você me destruiu. Eu chorei um choro desesperado, perdido. Não entendia como você, logo você, era capaz de me faz mal daquela maneira. Você empurrou mais fundo a estaca que antes havia cravado em meu coração. Dramática essa metáfora, eu sei, mas a dor que eu senti foi fora do comum.
Continuei sofrendo, cada dia mais. Eu estava me afundando em um buraco e, mesmo sabendo a saída, não consegui querer sair dele. Eu só queria você, de qualquer forma, de qualquer jeito. Eu não te amava mais somente como amigo, percebi, eu te amava como homem. Eu te queria como uma mulher quer um homem. Esse amor era tão grande, tão imensurável... acho que nunca vou amar alguém como te amei.
Fiquei nisso por um tempo, me afundando em coisas inúteis só para ocupar minha cabeça e assim conseguir distraí-la da dor. Mas isso ia chegar ao fim. Chegou. Um dia, sem mais nem menos, eu estava conversando com uma amiga, amigona, próxima mesmo, que você conhecia e sabia dessa nossa amizade. Eu estava conversando com ela quando a mesma me contou que você deu em cima dela. Você deu em cima dela! Na hora eu parei, olhei para ela, disfarcei, abaixei os olhos e passei a olhar para dentro de mim mesma. Primeiro eu fui possuída por um ódio gigantesco. Se você estivesse na minha frente naquele momento eu teria acabo contigo. De todos os jeitos. Fiquei com ódio da sua falta de moral, caráter, consideração, tudo! Depois veio a verdade: você não sentia absolutamente nada por mim mais. Amizade, amor, atração, o que fosse, nada. Eu passei a ser uma migalha de pão velha que você jogou aos pombos, pois te era útil.
Depois daquilo eu passei a querer te tirar de mim, e quando se quer algo que depende exclusivamente de si próprio, se consegue. Apaguei todas as suas mensagens do meu celular e as que eu havia te enviado também. Antes eu ficava remoendo essas lembranças como uma tolinha apaixonada. Eu deixei de ser. Parei de falar de você para as pessoas. Parei de procurar saber de você. Parei de chorar por tua causa ou de me entregar a qualquer sentimento que tivesse relação com a sua pessoa, seja ele negativo ou positivo. Você é passado para mim. Primeiro porque você escolheu isso, e agora porque eu quero.
De alguma forma eu sempre vou te amar. Sempre vou me lembrar de você de um jeito bom na maior parte das vezes, mas não vai passar disso, porque se ameaçar passar, eu vou impedir. Essa história de “guardar só as memórias boas” só da certo para quem está em um estágio bem avançado de iluminação. Comigo isso só funcionaria como incentivo para correr atrás. Por isso, por enquanto, não quero lembrar de você de jeito nenhum. Não vou me deixar encher os olhos de lágrimas por sua causa outra vez. Um dia, quem sabe, eu me deixe pensar em você novamente, e quando o fizer, será de forma madura e humorada, para rir das besteiras que eu possa ter feito e apenas continuar seguindo com a minha vida.
Por agora eu digo que te evito, pois estou em estágio de recuperação. Eu te amo. Muito, absurdamente. Mas você não merece esse amor, nem o quer. Então eu vou guardá-lo, enterrar esse sentimento comigo, tentando sempre usá-lo como aprendizagem e esperando sempre conseguir seguir em frente. Mas lembre-se: você quebrou todas as nossas promessas. Só hoje eu posso ver que o nosso “para sempre” nunca existiu.