terça-feira, 16 de setembro de 2014

Àquela melhor amiga

Nós já tivemos tantos momentos difíceis que eu nem consigo discorrer perfeitamente sobre todos eles. Brigas, acusações, gritarias, injustiças, tapas, traições. Já virei às costas para você uma vez com a certeza absoluta de que estava fazendo a coisa certa. Nos afastamos em corpo e alma e não consigo dizer o momento exato em que tudo se resolveu e nos tornamos o que somos hoje. Talvez a conjuntura dos últimos anos tenha facilitado. Meu “complexo de édipo” superado e eu finalmente pude entender a tua importância na minha vida.

Hoje, com 20 anos de convivência e mais 9 meses de elo intrauterino, posso dizer que você é realmente minha melhor amiga. Esse, talvez, seja o maior objetivo de todas as mães: serem melhores amigas e confidentes de suas filhas.

Nunca fui muito emocional com você, admito. Sempre tive esse muro entre nós quando se tratava de amor e demonstrações de tal. Há uns tempos atrás eu tinha até dificuldade de responder quando você dizia que me amava. Injusto, eu sei. Logo você, que gostaria de poder dizer isso a sua mãe todos os dias, tendo uma filha com mãe presente e que não consegue externar o único sentimento que deveria ser absoluto na relação maternal.

Entretanto, com todos esses meus defeitos você me aceita e me dedica todo o seu tempo possível. Como dizem, amor de mãe é incondicional. Ela te amará sem nenhuma condição, e não apenas por você existir, porque mesmo sem nem estar mais nesse mundo ela continuaria te amando. Mas ela te ama pelo simples fato de você ser filha dela.

Pois então aproveito a oportunidade para lhe dizer que te amo sim! Você é meu porto seguro e em quem eu mais deposito a minha confiança. Enquanto todos pensam que com o passar do tempo e do ganho da maturidade vão-se soltando as amarras dos pais, eu vou apenas confirmando o quando preciso de você. Posso ter todos os melhores amigos do mundo que nenhum deles vai acalmar meu coração com apenas palavras como você me acalma no momento de desespero. Nenhum deles me dará o colo sem censura que você me oferece. Nenhum deles terá a necessidade de estar ao meu lado como você, pois só uma mãe sabe que é responsável pela vida daquele indivíduo, esteja ele com 2, 15, 20 ou 40 anos. Acho que toda mãe que aceitou de coração o fato de ser mãe sabe que sua alma foi dividida em um pedaço quando coloca um filho nesse mundo.

Então, obrigada. Por ontem, por hoje e pelo futuro, pois sei que estará comigo nele também. E se Deus quiser, por muitos mais anos. IMG_20140916_173145

domingo, 20 de julho de 2014

No ponto

Hora de olhar para si mesmo com mais benevolência, cuidado. Foco é a palavra chave para o sucesso. Muito amor no peito te desvirtua da jornada, pois o mundo não julga os melhores pelo quanto de amor eles tem para distribuir, e sim por quanto eles se destacam na multidão. Os benfeitores filantrópicos que progridem por amor ao próximo apenas utilizaram esse sentimento à seu favor. Seguir uma jornada sem fins lucrativos é lindo quando se tem uma cama quentinha com o corpo do outro te esperando ao chegar a casa. Difícil é manter a gentileza e o sorriso no rosto quando os armários estão vazios e o amor não é suficiente para preenchê-los. Imprescindível perceber quando chega o momento de olhar para si mesmo e abrir mão daquilo que te tira o foco do seu próprio eu. É extremamente doloroso abrir uma ferida para poder sarar outra. A rotina massacra a perfeição e nos faz querer driblar as dificuldades. Sem percebermos, deixamos de lado todos os nossos sonhos individuais para viver um novo sonho com o outro. A questão é cair em si e passar a enxergar não só com os olhos, porém também com o coração, que abdicar de si para amar por completo o outro deixa sequelas. Essas irão aparecer quando menos se esperar, arrancando todos do desfrute do paraíso para uma caminhada pessoal, única e solitária, onde você é o regente da própria vida e além de ter que lidar com seus próprios fantasmas, desejos e frustrações terá que lidar com o apego que deixou no outro. Difícil escolha. Talvez somente os corajosos consigam fazê-la. Talvez somente os que nunca amaram de verdade consigam fazê-la. Ou talvez apenas aqueles que realmente se amaram de verdade cheguem a fazê-la. Um questionamento sem ponto final.

sexta-feira, 6 de junho de 2014

Pouco contida

 

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Eu preciso disso. Abrir meu coração e deixar meu peito encher de alegria. Preciso dessa paz e dessa harmonia que o ambiente exala, mas preciso me conter porque o mundo urge apressado me proporcionando tudo e nada ao mesmo tempo. Eu quero ele me aconchegando na cama, mas quero pegar a estrada sozinha com a cara na janela e correr contra o tempo. São tantas coisas que acontecem e tiram a minha melhor forma de me expressar. Ela grita e pede pra sair, mas meu corpo insano e exausto não deixa. Por que me deixo abater pelo cotidiano? Por que não posso simplesmente jogar tudo numa mala, bater a porta de casa e sair de mãos dadas com ele pelas maiores e mais bonitas montanhas que existem lá fora? Queria ter a coragem das desbravadoras mulheres que se tornam independentes sem nem ao mesmo precisar se preocupar com o tentar. Elas conseguem de primeira vencer porque se satisfazem com o que alcançam. Eu quero tudo e no minuto seguinte já quero o inverso. Eu me perco em mim mesma e me desespero porque sou desequilibrada e preciso dele para me pôr no eixo. Então fico irritada por ser tão dependente dele e de todo mundo e resolvo me fechar numa ostra lacrada. Coitada. Sou um alto falante das minhas próprias verdades e jamais conseguiria me manter quieta e sã ao mesmo tempo. Sou uma turbulência em forma de gente, pequena e esmirrada por fora, mas grande e avassaladora por dentro.

 

“Querias ser livre.

Para essa liberdade, só há um caminho:

o desprezo das coisas que não dependem de nós.”


―Epicteto

terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

Peccatum*

Pequei por amar demais. E me entregar de corpo e alma a essa paixão. Errei por querer perto todo o tempo, ou quase ele todo, não sei. Pequei porque meu amor caminha junto com a paixão, deixando assim a chama acessa. Errei feio em achar que poderia sonhar livremente, me entregar ao amor em sua forma mais plena sem me preocupar com desencontros. Porque, pra mim, no amor verdadeiro só há partida quando de mãos dadas, caminhando juntos. E a verdade é que a vida separa e molda cada um ao seu jeito e de acordo com o caminho que tomamos, com a escolha que fazemos. Então se no final das contas eu pequei por amar demais, foi porque escolhi esse amor. E o escolhi porque me foi permitido fazê-lo. Então o amado é culpado pelo meu pecado mais profundo, pois escolheu estar distante, já que a vida só te afasta quando você escolhe ficar longe.

*Peccatum (latim) = Pecado.

sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Você volta?

Eu esperei por você por dias, meses. Fiquei sentada na soleira da porta esperando ver a sombra do teu corpo cruzar a esquina de casa. Esperei ver você chegando com a caixa que tirou daqui com todas as suas coisas, dizendo que era pesada demais, então não pretendia tirá-la nunca mais. Quis tanto que você voltasse pra mim, mesmo que você não estivesse sorrindo, mas que pelo menos estivesse vindo. Hoje está chovendo e mesmo que você possa pegar uma gripe, eu torço para te ver caminhando em direção ao nosso lar de novo. Eu cuidarei de ti como não cuidei anteriormente. Juro não dar uma de louca ciumenta de novo; te deixarei respirar. Mas você terá que fazer o mesmo, meu amor, pois se me transformei nesse monstro, foi através de você. Você me sufocou tanto com aquele teu jeito possessivo que eu mesma quase te pus para fora de casa. Quase. Não vivo sem você. Essa casa é um mausoléu sombrio quando você não está presente.

Nossa, que frio está fazendo hoje. Resolvi sentar na janela hoje para te esperar voltar. Você vem, não vem? Não estou aguentando mais sem você aqui, meu amor. Volta para mim de uma vez por todas. Já fizemos as promessas necessárias. Você mesmo disse que a culpa maior era sua. Por que então me causar todo esse martírio?

sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Boa o bastante

O que eu preciso fazer para você prestar atenção em mim? O que preciso fazer para que me leve a sério? Tudo o que eu já fiz na minha vida foi pensando em te deixar orgulhoso; em arrancar um sorriso de satisfação de você. Mas você não sorri para mim, você grita, me humilha e me mata por dentro. Como ousa me abandonar? Como ousa renegar quem você mesmo gerou?

Você costumava ser bom; ser meu herói. Lembro-me de todas as nossas brincadeiras, nossos abraços. Todo o afeto que me foi tirado. Sinto falta da minha infância, pois lá eu era boa o bastante para ser amada por ti. Hoje não passo de um fardo, um trapo velho que suga seu precioso dinheiro e ocupa espaço na sua casa. Sou a párea que você quer distante. Sou aquela que rouba tua alegria e te causa vergonha.

Não importa o quanto eu tente, nunca mais conseguirei alcançar seu coração. Fui esquecida; trocada. Tenho vontade de acabar comigo mesma quando vejo no que nos transformamos. Vontade de me dilacerar inteira somente para acabar com a dor. Você está acabando comigo, me matando a cada dia.

Não se preocupe. Um dia, talvez não muito distante, eu vou estar saindo por aquela porta para nunca mais voltar. Vou ter as minhas próprias coisas, meu próprio lar. Não vou precisar mais dos seus sacrifícios. Você viverá a vida que sempre sonhou ao lado de quem sempre quis. E sabe de uma coisa? Viverá só, pois num piscar de olhos ela cansa e some do seu mundo também. E eu não vou voltar, não adianta implorar. Não vou voltar porque eu lutei por anos pelo seu afeto e morri na praia. Sairei sem um pingo de amor, pois você secou tudo que estava aqui dentro. Para mim acabou.

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Complexo de avestruz

Vou tentar escrever hoje porque a agonia no meu peito não tem nome. Surgiu no meio de um monte de sorrisos e carinhos trocados. De uma hora para outra meu coração murchou e chorou lágrimas de sangue. Começou a buscar algo que nem ele mesmo sabe nomear; e quando não sabemos dar nomes é porque está ruim mesmo. Aí eu tentei rir dos outros na rua porque não tem remédio melhor para os seus problemas do que focar no problema dos outros, mas não deu certo, já adianto. Fiquei com pena do povo e me entreguei à dor do próximo.

Não sei se a ficha caiu do que eu sou para alguns, sei lá. Lembro de ter contato a básica história da minha vida por telefone e, quando desliguei, bateu a tristeza. Agora ela está se arrastando comigo, amaldiçoando todo acontecimento minimamente desagradável. Está transformando tudo em tempestade. E eu, a rainha dos melodramas e casos mal resolvidos, vou absorvendo e desmontando como uma flor que perde pouco a pouco suas pétalas. A tristeza veio forte e somatizou tudo ao meu redor. A mente está pesada e a vontade é, acredite se quiser, ser um avestruz, por um dia que fosse, somente para ter o prazer de enterrar a cabeça na terra e ali permanecer.