terça-feira, 16 de julho de 2013

O melhor do mundo

Poeta bom é aquele que sabe falar de amor. Seja no frio ou no calor, ele busca estar à par de cada glândula de sentimento que nos preenche. Poeta sábio é aquele que corre pro lápis cada vez que lhe surge uma ideia. Sagaz, sabe que ela some num piscar de olhos. Ideia tem prazo de validade. Poeta esperto conta seus lamentos no papel; desliza as lamúrias detalhadamente em cada linha borrada de lágrimas. Se liberta e sai pra vida, como se fosse alguém qualquer. Poeta de verdade nunca será igual a todo mundo, porque ele leva consigo o peso do planeta inteiro. Ele carrega das angústias do mendigo até as da vizinha distante que foi traída pelo marido. Faz isso pra ter sobre o que escrever quando lhe faltarem palavras sobre si mesmo. E faz tanto isso que vira hábito e o torna escravo dos problemas alheios. Porque poeta vive pro outro, pro amanhã, pro ontem. O presente é descrito por cada letra rabiscada, nada mais. Presente vivido não é pra ele. Ele sabe que na verdade seu “eu” não anda por aí aleatoriamente, porque este só existe quando está de frente para sua poesia; entregue, sedento. Poeta é confuso e perdido no mundo. Sofre de problemas existenciais o tempo todo. Quando descobre maneiras de resolver esses problemas, adia, pois sabe que a lamentação é a fartura de sua escrita. Mas no fundo ser poeta é ser o melhor do mundo, porque ele sabe tudo o que acontece, mesmo sem ter vivido realmente.