sábado, 16 de junho de 2012

Sob o céu e o luar

Eu gosto daquele momento em que você me pega inteira e me joga no sofá para te fazer mais sua. Você me tira de mim com aquele seu hálito fresco, embaça todos os meus sentidos com o teu sorriso diabolicamente perfeito. Você me puxa pra bem perto de você de um jeito que eu sirva de encaixe junto com o teu corpo. Eu gosto daquela tua respiração acelerada, que entrecorta todas as suas palavras. Adoro quando você respira desse jeito perto da minha pele e diz que me ama de uma forma que nunca pensou ser possível amar alguém. Eu sempre pergunto por que você acha que o que sente é amor, e não só prazer. Você diz que já esteve com muitas mulheres e nenhuma delas te fez ter receio de perde-las como você tem de me perder. Na verdade, você sempre diz que nunca nem ao menos se importou de ligar no dia seguinte, porque sabia que todas eram iguais, não sairiam da sua vida levando nada que você pudesse sentir falta. Mas que comigo é diferente. Sempre reviro os olhos de contentamento quando lembro a minha importância dentro de ti. Como foi mesmo que você disse? Imagine o céu pela manhã com o intenso brilho do sol. Imaginou? Então, assim é como eu me sinto quando estou com você: iluminado. Agora imagine a noite. Você não consegue imaginar uma noite completamente escura, não é? Porque existe a lua. Está escuro, mas não um breu. É assim que eu fico quando estou longe de você. Agora imagine esse mesmo céu sem a lua. Não dá pra enxergar nada, pois não existe nada. Assim seria se você saísse da minha vida: um nada; um tremendo vazio. Quando relembro dessas tuas palavras a vontade que eu tenho é de me jogar nos seus braços, não importando onde estivermos ou quem estiver ao nosso redor, pois eu só quero provar que eu sou completamente sua. Que não haverá noites sem lua. Que por mim nem haverá noite nessa sua metáfora, pois eu quero estar contigo a toda hora, em todos os momentos.
Nosso primeiro encontro foi uma desgraça. Tentamos comer uma macarronada feita por mim, porém esta estava fria e grudenta. Eu ria nervosamente por ser esse desastre na cozinha, mas você não parecia ligar. Não estava ligando realmente. Você me disse mais tarde que havia perdido a concentração na comida no momento em que eu comecei a sorrir. Disse que ficou paralisado com a minha beleza e alegria e que nada mais o preocupava a não ser olhar para mim. Desistimos de comer e resolvemos abrir o vinho. Você, desastrado como é, conseguiu virar a taça perto o bastante de sujar a minha blusa. Eu sinceramente pensei que você tivesse feito de propósito, mas você jura de pés juntos até hoje que foi realmente sem intenção. Fui para o quarto mudar a blusa, porém você veio logo atrás de mim, me puxando pela cintura e me fazendo ficar de frente para você. Eu já estava apaixonada, meus olhos me entregavam. E você também estava, me contou depois. Você cravou aqueles seus olhos castanhos nos meus e delicadamente passou os dedos no meu rosto, descendo para os meus lábios, pescoço, e depois a usou para afastar os fios de cabelo que cobriam os meus ombros. Você então lentamente começou a beijar meu pescoço e meu ombro, fazendo com que eu perdesse o ritmo da respiração. Eu não o impedi, porém também não avancei. Fiquei exatamente como estava. Você parou de beijar meu pescoço e passou a olhar em meus olhos. Minhas mãos, involuntariamente, foram parar em seu rosto. Eu o acariciei ternamente, depois as cruzei em volta do seu pescoço. Você aproveitou a deixa e me puxou mais para perto de si, fazendo com que eu sentisse sua respiração em meus próprios lábios, porém deixando a escolha do beijo por minha conta. A espera não durou muito. Eu me agarrei aos cabelos de sua nunca para poder finalmente te beijar do jeito que eu estava ansiando fazia tempo. Começamos com um beijo lento, mas logo aumentamos o ritmo, pois nos desejávamos demais. Você me levantou, de maneira que eu pudesse entrelaçar minhas pernas em volta da sua cintura e entramos no quarto. Aquela foi a primeira das melhores noites da minha vida.
Você sabe o quanto eu sou ciumenta e gosta de me provocar com isso. Adora me deixar com a pulga atrás da orelha, pois diz que a minha cara de brava é extremamente sexy. Eu fico mais irritada ainda quando você diz essas coisas, porém a tua expressão de contentamento me fascina demais para me deixar presa em irritações idiotas. Eu me entrego a você com uma facilidade tamanha que às vezes me espanto. Você me faz sentir tão viva que tenho medo de que um dia você decida ir embora e eu perca a essência da minha alegria. Quando eu começo com esses assuntos você fica irritado. Odeia quando eu desconfio do teu amor por mim e detesta mais ainda eu considerar o fato de quem um dia você possa partir. Eu já te disse do meu céu sem lua, não é mesmo? Você acha que eu quero aquele vazio? Pois é daquele jeito que eu vou ficar sem você. E eu peço desculpas e te mimo pra você esquecer o que eu disse. Mas eu sempre volto com esse assunto, não é mesmo? Você sabe que eu não acredito em “felizes para sempre”. A última vez que eu te disse isso você me deu uma resposta que até hoje eu penso sobre. Quem disse que vamos ser felizes para sempre? Ser feliz o tempo todo é insuportavelmente entediante. Nós vamos ter os nossos dias de chuva também; dias em que vamos brigar tanto que iremos ficar infelizes. Mas aí cada um vai se lembrar do amor que temos um pelo outro e vamos fazer as pazes. Você sabe que eu adoro o jeito que a gente faz as pazes, não é? De acordo com você, esse será o nosso para sempre.
Quero entrelaçar minhas mãos nas suas e te levar para caminhar comigo, só pelo prazer de caminhar. Vem que eu te mostro a beleza do mundo. Onde houver tristeza nós levaremos a alegria. Tenho certeza que ninguém seria capaz de resistir à esse seu sorriso mágico. Você é fascinante, sabia? Tudo em você me tira o fôlego. O jeito que você caminha; que se aproxima das pessoas; que se aproxima de mim. A tua maneira de articular as palavras; o teu perfeccionismo com o português e o teu desleixo com os modos. Você não fala absolutamente nada errado. Quando tem dúvida de alguma palavra, guarda na memória para procurar o jeito certo depois. Meu dicionário lindo ambulante. Em contrapartida, você acha completamente normal falar com a boca cheia de comida ou mascar chiclete fazendo barulho. Também não faz a menor questão de se lembrar de pedir desculpas ou agradecer pelas coisas do dia a dia. Simplesmente não passa pela sua cabeça, e eu tenho que ficar te policiando para ser educado com o mundo. Você odeia o meu orgulho. Aliás, essa é uma das principais razões das nossas brigas. Você sabe que mesmo que eu esteja errada, eu não vou te pedir desculpas. Que eu vou ficar ali, me remoendo, mas que não vou dar o primeiro passo. Mas também sabe que quando eu tiver feito algo errado basta você aparecer na soleira da minha porta que eu vou correr para você e te abraçar o mais forte que eu puder. Você sabe que esse é o meu pedido de desculpas e a minha promessa de não repetir o erro. Nós nos entendemos muito bem dessa maneira estranha.
Você apareceu na minha vida quando eu estava desacreditada do mundo e das pessoas. Você me mostrou que os defeitos não são concentrados em todos; eles estão espalhados por aí e cada um está com o seu. Com você eu vi que as pessoas são muito diferentes umas das outras; que um erro cometido uma vez não necessariamente significa que será cometido de novo, só é necessário um pouco de cautela. Você me mostrou que ser cautelosa não é possuir um muro escondendo as emoções. Isso é ser covarde. E a covardia só nos afasta da felicidade. Eu tinha medo de ser feliz porque eu sabia que um dia a felicidade iria embora e me traria a tristeza novamente. Você veio e quebrou esse meu paradigma no momento em que me mostrou como é bom ter um momentinho que seja de felicidade. Há dores nessa vida que nunca serão fortes o suficiente para apagar a lembrança de uma alegria. Quando nos encontramos, nós nos salvamos. E, enquanto um trouxer coisas boas assim para o outro, permaneceremos lado a lado.



sexta-feira, 8 de junho de 2012

Reviravoltas

Tenho que admitir que às vezes eu sinto falta. Mas não é uma falta dolorosa como antes. Está mais para uma nostalgia, estar acostumada com. É aquele negócio de quando você resolve analisar o passado e percebe que muitas coisas já deixaram de existir. Mas sentir falta de pessoas que já foram importantes na sua vida é extremamente normal. Se você não sente falta, não teve importância, certo? A diferença é como, quando e porque você continua a pensar nessas pessoas. Tem gente que não está mais presente. Tem gente que não quis mais estar. E faz um tempo que eu descobri não precisar mais dar atenção àqueles que não estão comigo. Eu não fico mais dizendo “não pensarei mais em”, “não escreverei mais sobre”, “não falarei mais de”, porque não é verdade. Se está dentro de mim, vai sair de alguma maneira. Porém as lembranças tomaram outra forma aqui dentro. Elas se transformaram em algo, não natural, mas aceitável, real. E dessa forma não dói mais. É só aquele sentimento nostálgico que vem trazendo o que foi bom do passado; te fazendo lembrar de cada escolha feita e de cada momento que valeu a pena. Traz o negativo também, porém esse deixou de ser penoso quando eu aceitei a realidade da maneira que ela chegou para mim: inicialmente fria, porém sólida.
Tiveram os momentos em que eu estivesse profundamente machucada com tudo o que estava acontecendo ao meu redor. Eu estava fraca, com a alma ferida e o coração partido. Eu estava de luto. Entretanto, o tempo passa. Acredite ou não, o tempo pode curar boa parte de nossas feridas, se nos permitirmos ser curados. Quando eu decidi abrir os olhos e encarar a verdade, percebi que necessitava ter forças para me levantar daquele breu imenso em que tudo havia me posto. Então eu passei a ver o que estava por vir. Eu passei a ter esperanças de dias melhores porque eu quis ter. Aquela minha fase de luto havia ficado para trás. Eu fiz questão de deixa-la lá e decidi me abrir novamente para o mundo. Vi que nada daquilo valia mais a pena, pois o tempo de tudo passa, e aquilo já estava com prazo de validade vencido.
Dessa maneira, eu ergui a cabeça em busca de cura. Queria purificar a minha alma poluída de dor, fúria e rancor. Queria voltar a ser quem eu era originalmente, mas que estava escondida debaixo daquela casca grossa e arrebentada. Eu escolhi mudar e seguir em frente.
Não desmereço o luto de ninguém, pois buscar forças para se levantar exige uma coragem fora do normal. Não importa o tamanho da estrada percorrida por cada um porque cada dor é única. Não importa quantas lágrimas você já derramou por alguém, pois a próxima vez que houver sofrimento e houver vontade de chorar, haverá mais lágrimas ainda. Não que tudo o que vivemos não sirva de aprendizado, mas esse é apenas uma armadura que te protege de sofrimentos superficiais. A essência da dor, toda vez que for experimentada, será nova. E nós temos que estar prontos para viver tudo isso. Mas nós nunca estamos, não é mesmo?