sábado, 31 de março de 2012

Que tal abrir os braços e se deixar voar ?

Sim, é isso que pretendo fazer. Quero correr por entre a floresta; afastar as folhas que insistem em me impedir de continuar; quero tropeçar em uma raiz, porém levantar logo em seguida com as mãos cheias de terra por ter aparado a queda com elas; quero continuar a correr cada e cada vez mais rápido.  E então eu paro de sobressalto – cheguei ao perigoso penhasco. Aquelas pedrinhas épicas caem lá em baixo devido a minha brusca parada e, ao vê-las, dou-me conta do que realmente estou fazendo. O que estou fazendo? Parada em frente à um precipício como se estivesse prestes a me jogar dele, é isso? Olho para o horizonte e consigo ver o sol se pondo. Aquele momento em que o céu e o mar são um só. Essa é a hora em que o sol abre mão de seu reinado para que a lua possa ter o seu espaço no céu. Isso não é incrível? Abrir mão do próprio brilho pelo do outro em prol de um bem maior? Sim, o sol sabe que, por mais que seja belo e extremamente essencial, a sua hora chegou ao fim. A lua agora possui a função de tirar o mundo do breu da noite. O sol se vai, levando consigo sua luz, mas sabe que será substituído a altura. Que grandeza conviver com isso. O que eu sou perto de tamanha nobreza? Um ser humano confuso que vaga por entre a mata em busca de respostas sobre algo que nem ao menos conhece? Infelizmente, sim. Eu fico olhando toda essa imensidão, essa troca de papeis acontecer, e percebo o quanto de insignificância transmito nesse lugar. Decido então dar as costas para o céu e seguir de volta à mata, porém, uma rajada de vento vem de encontro ao meu corpo e parece puxar meus cabelos de volta. Respondo à isso voltando minha face em direção ao horizonte novamente. Agora as folhas estão dançando com o vento. O sol já quase não pode mais ser visto e a brisa está cada vez mais forte. Ouço as palmeiras atrás de mim se balançarem, cada vez mais insistentes. Tento novamente recuar de volta à floresta, porém as folhas parecem estar tão entrelaçadas que não encontro passagem. Desisto, voltando a ficar de frente para o mar, na ponta do penhasco. Depois de titubear, resolvo então ceder e abrir os braços como se eu fosse abraçar o horizonte. Ergo a cabeça, empino a coluna e finalmente me entrego ao ritmo do vento que tanto insistiu para que eu ficasse. Decido abrir mão de mim mesma como matéria, sou só espírito agora. Minha aura grita por misericórdia e redenção. Grita por liberdade e vitória. Meus pés avançam mais um pouco em direção à beira, e sinto meu corpo cambalear um bocado – não ligo. Minha alma está caminhando para a luz e meu corpo já fez seu papel na Terra; já abrigou essa pobre alma solitária por tempo suficiente. É hora de partir. Eu me deixo levar pela forte brisa, sinto meu corpo ser inclinado; agora o vento parece dar tapas em meu rosto de tão forte e rápido que o encontra. O fim está próximo. Não o fim de uma vida, e sim, o fim de uma era. É hora de recomeçar. Aquele conjunto – corpo e alma – se foi. Um novo eu está surgindo das cinzas.

sábado, 24 de março de 2012

E quando a saudade bate….


Eu tenho pensado muito em você ultimamente. Eu não tinha acesso a sua lembrança, porém, de uns tempos para cá, ela começou a se esgueirar para fora do meu interior, algo a está desbloqueando e eu não sei bem o que é. Talvez seja esse ócio que anda sendo a minha rotina, sabe? Eu fico o dia inteiro sem ter muitas responsabilidades para cumprir, então acaba sobrando muito tempo para pensar naquilo que eu não deveria. Claro que enquanto eu estava viajando tudo ficava mais fácil. Era uma outra rotina, novas pessoas, diferentes lugares. Havia muita coisa para me distrair, ocupar o meu tempo, minha cabeça e preencher o vazio do meu coração. Mas agora não. Em casa tudo é mais difícil. Eu nos vejo em todos os cômodos; eu ouço a tua voz no silêncio da madrugada; eu sinto seu cheiro dentro do meu quarto totalmente fechado. Está ficando difícil de suportar. Por causa disso, todos os dias eu tenho tido lapsos de culpa e arrependimento. “Será que eu tomei a decisão certa?”; “Será que ele realmente não se importa mais, ou é só seu orgulho idiota agindo outra vez?”; “E se aquela nossa última conversa tenha significado que ele se importava e eu exagerei?”. Esses pensamentos começaram a tomar a minha mente como um mosquito insuportável que fica zumbindo em meu ouvido. Demora um pouco, mas eu recordo a consciência e lembro que, sim, eu estava certa; sim, eu fiz tudo o que eu podia fazer e até o que eu não podia; não, eu não fui injusta ou exagerada, eu provei que tenho limite e amor próprio. Às vezes eu fico com medo de não estar indo atrás de você por orgulho, mas eu sei que a verdade não é essa. A questão não é orgulho, pois se fosse eu já teria ligado para você quando estava bêbada. A questão é o certo e e o errado. Você queria distância e eu te dei. Você queria que eu saísse da tua vida e eu saí. Você fez de tudo para que essa sua atitude parecesse loucura minha, exagero meu, para que eu me sentisse exatamente como me sinto às vezes: culpada. Você se aproveitou do fato de me conhecer tão bem para me afastar por mim mesma. Que coisa cruel de ser feita com aquela que você dizia ser “sua irmã de alma”. Mas você fez, não é? E ninguém pode voltar no tempo e mudar o que aconteceu. Eu queria, todos os dias, voltar e mudar alguma coisa para não estarmos onde estamos agora. Mas aí eu eu lembro que não tenho que mudar nada, pois quem mudou foi você. Mudou seu jeito de ser, mudou seus interesses e, arrisco dizer baseada em experiência própria, mudou seu caráter. Eu sinto falta do que fomos um dia, do amigo que você foi para mim e da amiga que eu fui para você quando você ainda queria. Ou seja, sinto falta de algo que não existe há muito tempo, e isso é muito triste de se admitir. Mas um dia passa, não é? E eu espero gloriosamente por esse dia. Enquanto isso eu fico tocando a minha vida e escrevendo sobre você quando sinto a sua falta.

quinta-feira, 22 de março de 2012

Esses meus pensamentos...

Às vezes, eu fico me perguntando se você tem curiosidade de saber algo sobre mim. Eu não deveria, eu sei, contudo, torna-se mais forte do que eu pensar sobre isso. Eu me pergunto diversas vezes se você se preocupa com o meu bem-estar. Para os outros é uma resposta simples e clara: não, ele não se preocupa. Porém, não sei dizer com certeza. Claro que pode ser o meu próprio cérebro tentando fugir ao fato de que você não se importa mais, porque pensar nisso como hipótese me fere de uma forma que você nem pode imaginar. Entretanto, não é mais uma hipótese. É praticamente um fato.
Eu fiz aniversário, você sabia? Eu completei mais um ano aqui na terra, mais um ano te amando e desejando fazer parte da sua vida. Eu sabia que você não iria me parabenizar. Mas aquele meu pedaço, que é só teu e sempre vai ser, ficou esperando, durante todo o dia, por uma ligação ou mensagem tua. Esse pedaço queria fazer meus olhos marejarem ao ler o teu “Parabéns.” Você poderia não ter escrito mais nada, nada mesmo. Se você houvesse escrito apenas essa palavra, meu mundo teria ganho cor novamente; minha esperança seria renovada; você não só teria regado esse teu pedaço que tem dentro do meu peito como também teria regado a minha alma. Mas você não o fez, não é? Você ignorou essa data, pois era mais um dia da tua vida perfeita e, é claro, que você não iria gastar 10 segundos do seu tempo para dar os parabéns para alguém tão insignificante quando eu.
Eu lembro do seu aniversário. Lembro como eu fiz de tudo para memorizar a data dado o meu esquecimento em relação à essas coisas. Eu fiquei ansiosa esperando o momento de falar contigo e, quando chegou, lembro de ter ligado para você. Você sabia que eu odeio ligar para as pessoas para dar parabéns? Eu odeio. Não sei parabenizar ninguém. Sempre fico sem graça e, quando acabam os votos, fica aquele vazio de falta de assunto. Mas com você não. Eu não temi. Eu digitei o teu número com felicidade, ansiando ouvir a tua voz. Depois de te parabenizar, ficamos conversando com aquele nossa velha intimidade; um assunto após o outro, sem fim. Que falta eu sinto disso… Você não faz ideia.
Lembra quando eu dizia que a sua voz era sexy por telefone? Eu lembro bem. Você estava formando a voz, mudando de garotinho para homem. Eu dizia: “Amor, sua voz está tão sexy no telefone. Continua falando.” Eu era bobinha. Mas você também era. Dizia que a minha voz era muito boa também, e ficávamos ambos lá, admirando ambas as vozes. Eu lembro de fechar os olhos e usar a tua como uma espécie de canção para dormir (nossas conversas rendiam até a madrugada).
Mas isso acabou, não é mesmo? Essa espera idiota que às vezes tem dentro de mim é muito tola. Eu não sei no que ela se baseia. No amor? Ele está poluído, machucado, derrotado e abandonado. Não acredito que tenha forças para tanto. Não, ele tem. Infelizmente ele tem. Sabe, tenho vergonha de mim mesma por admitir isso sabendo que não haverá mais retornos, mas é verdade: eu te amo demais. Demais. Meu amor por você não acaba, não some. Fica aqui, preso dentro de mim. De vez em quando ele sossega, é claro, se não, não há coração que aguente. Eu aprendi a controlá-lo por bastante tempo, mas tem vezes que ele escapa de minha mão e arde aqui dentro. Vem uma saudade louca e uma necessidade enorme de você. Quando eu não consigo controlá-lo de imediato, ele fere.
Se eu tenho vontade de saber como você está? Muita! Eu queria saber se está se dedicando aos estudos, como você disse que faria. Queria te ajudar a fazer isso, porque, você sabe, eu conseguiria te manter focado e isso não seria um estorvo na minha vida, seria maravilhoso. Eu queria poder contar para você as coisas que andam acontecendo comigo. As boas e as ruins. Queria poder chorar contigo mais uma vez. Queria que tu me abraçasse de novo por medo da distância. Eu gostaria de compartilhar tanta coisa contigo… E eu não posso nem saber se você está bem. Eu não sei mais quando você está doente, quando tem uma gripe, quando está se entupindo de porcarias para ficar maior, mesmo não precisando. Não sei se está tomando a quantidade de água que tem que tomar ou se ainda está com a boca toda ressecada por dormir todos os dias no ar. Conhecendo você como conheço, sim você está. E eu queria poder ver tudo isso. Queria poder brigar contigo por isso. Queria te mandar beber água no meio das nossas conversas. Eu queria poder conversar com você ainda, amor. Nossa, como eu queria. Se eu pudesse voltar no tempo e reviver pelo menos um dia desses nossos tempos felizes, eu faria. Eu sinto muita falta disso, você não faz ideia. Eu me engano a todo o tempo fingindo que você não está mais aqui, mas você está. Sempre vai estar. Eu sou louca por você. Sempre fui. Eu tento muito não olhar pra trás, seguir a vida já que você não deveria mais fazer parte dela, mas eu não consigo. É tão difícil! Eu vejo as pessoas dizendo dos seus melhores amigos por aí, contando as coisas que passam com eles e eu lembro que eu não tenho mais isso. Eu não tenho mais o meu melhor amigo. Como pode uma coisa dessas? Eu nunca na minha vida pensei que um dia fosse escrever essas palavras! Nunca! E agora eu estou aqui, implorando para ninguém pela tua volta. Eu sei que você não lerá isso. Você nunca lerá nada do que eu escrevi para você. Nada! Tudo bem, eu nunca escrevi com esse intuito, mas saber que você leu significaria que você ainda se importa. Eu preciso tanto do teu sorriso de novo; das tuas gírias idiotas que eu nunca entendia; dos teus erros de português que eu adorava corrigir; preciso da sua inteligência e da sua praticidade; preciso dos teus conselhos e preciso da tua vontade de querer minha credibilidade e confiança de volta. Eu preciso tanto, amor, tanto! Você não faz ideia do que a tua ausência me faz. Eu tento todos os dias sair disso, me curar, viver a vida, mas você não está aqui. Como você pode não estar mais aqui? Você prometeu que sempre estaria. Por que você prometeu se não pretendia cumprir? Eu queria odiar você, mas é impossível odiar alguém por quem eu daria a vida. Você sabe disso? Eu daria a vida por você. Sem pestanejar. Às vezes, eu fico imaginando se um dia alguém chega para mim e diz que aconteceu alguma coisa séria contigo, um acidente, sei lá, ou até coisa pior. Nossa, eu acho que meu coração para no mesmo instante. Eu não vou aguentar. Claro que não. Só de pensar nisso perco o ar.
Chega. Eu disse tudo o que eu não deveria dizer. Mas eu não ligo. Você não vai ler. Eu escrevo isso para mim, na verdade. Para criar essa ilusão idiota de que estou dizendo todas as coisas para você. Elas nunca irã ser lidas nem ouvidas pelo real destinatário delas.

domingo, 4 de março de 2012

Remédios para grandes feridas

É incrível o poder de cura que alguns lugares possuem. Eles guardam para si sua beleza e suavidade, exibindo-as verdadeiramente apenas para aqueles que se dignam a visitá-los. Eu visitei dois desses lugares, e os devo reverências: ambos participaram efetivamente do meu processo de cura.
Eu estava sofrendo desesperadamente. A dor me sufocava, tirava meu foco, minha esperança, credibilidade, alegria de viver. Eu me sentindo rejeitada por qualquer coisa. Estava com uma ferida gigantesca no peito que não parada de sangrar. Qualquer aproximação um pouco grosseira que fosse já me tirava do sério. Meus nervos estavam em frangalhos. Eu me encontrava perdida no meu limbo pessoal.
Então eu fui para Praia Seca. Arrumei minhas malas, entrei dentro do ônibus com as amigas e parti para esse fim de mundo. Que fim de mundo delicioso! Caía uma chuva idiota do céu que estragava qualquer probabilidade de uma badalação a noite. Pois é, eu pensava que iria encontrar muita gente , alguma farra para me enfiar e bastante sol para dar uma queimada na minha brancura habitual. Não encontrei nada disso.
Paria Seca se mostrou um lugar tranquilo, um tanto monótono, pode se dizer. Mas é aquilo, você nunca sabe do que precisa até dar de cara com. Aquela monotonia trouxe paz para dentro de mim. Descrever o que eu fui sentindo na semana que passei naquela cidade é muito complicado, pois as sensações às vezes são tão plenas que você encontra dificuldade de defini-las. Vou tentar ser o mais precisa possível: eu estava perdida dentro de mim mesma, uma bagunça humana. Parte de mim quebrada, totalmente destruída; a outra estava parada, sem vida. Eu não conseguia ter forças para ativar nada aqui dentro, a não ser trevas. PS tratou de me invadir com seu ar salino, mover tudo o que aqui estava inerte e dar-me vida outra vez. Aquela lagoa me completava. Eu clamava por ela tanto quando ela clamava por mim. O vento frio não me incomodava; era terapêutico. Eu sentia a brisa bater no meu rosto e aquilo que confortava de uma forma tão ampla, que me fazia sentir bem comigo mesma, coisa que eu não conseguia fazia tempo. Tudo foi essencial: as pessoas, as amigas, a lagoa, a areia da lagoa, o vinho, a música, as conversas, as tequilas, as pizzas, o vento, as caminhadas, a chuva, a praia,...
Eu precisava daquela calmaria para me regenerar, por-me no lugar novamente para conseguir seguir adiante. A bagunça fora organizada. Eu estava pronta para a vida.
Então chegou o carnaval. Fui para Caxambu-Minas Gerais. Tenho que admitir. Estava extremamente receosa quanto a isso. Nunca fui fã dessa data, nunca nem ao menos tive vontade de sair de casa nessa época. Viajar fora arriscado, mas não pude me conter a oportunidade de mudar os ares. Foi nessa viagem que eu descobri a magia do carnaval. Foram 14 pessoas dentro de uma única casa. Catorze pessoas que fizeram daqueles dias maravilhosos. Aquela mistura de sotaque era deliciosa. Cariocas, paulista e mineiros como prato principal daquela loucura carnavalesca. Eu me vi no meio de um lugar desconhecido, com muitas pessoas desconhecidas e sem ter ideia do que fazer. Eu não precisei dela. Eu simplesmente me entreguei ao lugar. Aproveitei que a minha bateria havia sido renovada para carregá-la ao máximo. E como carreguei. Nunca me diverti tanto e por tantos dias seguidos como naqueles 4 dias. Foi espetacular. As ladeiras de Caxambu não me cansaram como todos disseram que iria acontecer; me revitalizaram. Eu passei a nutrir um amor por aquela cidade. Sinto falta da simplicidade dos mineiros, da simpatia sem receios destes; Sinto falta dos paulistas, das suas loucuras, idiotices, bebedeiras e principalmente da abertura que eles tiveram ao se deixar familiarizar por todos; Tenho saudades da paz e segurança da cidade, onde eu podia caminhar trêbada sem maiores receios de ser assaltada/abusada/sequestrada como tenho no Rio de Janeiro, rs. 
Eu deixei Minas Gerais com aquele gosto enorme de quero mais, essa é a verdade. Apaixonei-me por carnaval, por paulistas, por mineiros, por tudo! Eu consegui, com essas viagens, achar motivos para sorrir novamente. Elas me trouxeram expectativas por dias melhores; trouxeram-me esperança. Vi que me entregar a tanta dor e sofrimento só me faz perder o que a vida tem de melhor a oferecer. Sou nova demais para bancar a viúva injustiçada. Estou viva e sou perfeitamente saudável. Caí, mas já me levantei. E você?